O mercado de veículos eletrificados vive um momento decisivo no Brasil. Segundo projeções da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), o país deve superar a marca de 200 mil unidades vendidas em 2025, incluindo modelos 100% elétricos e híbridos. O resultado confirma o amadurecimento de um segmento que já movimenta cadeias produtivas, pressiona montadoras a inovar e redefine hábitos de consumo e mobilidade.
De janeiro a agosto de 2025, foram emplacados 126 mil veículos eletrificados, alta expressiva em relação ao mesmo período do ano anterior. Apenas em agosto, as vendas chegaram a 20,2 mil unidades, crescimento de 38% frente a 2024. A tendência é impulsionada pela combinação de fatores econômicos, tecnológicos e ambientais, e começa a reposicionar o país no mapa global da mobilidade sustentável.
Eletrificação avança, mas combustão ainda domina
Apesar da expansão, os carros a combustão seguem amplamente majoritários no Brasil. O preço de entrada mais baixo, a infraestrutura consolidada de abastecimento e o peso da cultura automotiva tradicional ainda determinam a preferência da maior parte dos motoristas.
No entanto, os veículos elétricos ganham vantagem no médio e longo prazo. O custo por quilômetro rodado pode ser até 70% menor em comparação aos modelos convencionais, e a manutenção tende a ser mais simples, já que os motores elétricos possuem menos peças móveis e exigem menos trocas de componentes.
O desafio está na transição: reduzir custos, expandir a rede de recarga e garantir incentivos que tornem o elétrico uma opção economicamente acessível. Montadoras, concessionárias e governos já buscam esse equilíbrio, adaptando portfólios e políticas para acelerar a mudança.
Incentivos fiscais e crédito verde impulsionam o setor
Nos últimos anos, o avanço da mobilidade elétrica no Brasil tem sido amparado por incentivos fiscais e políticas de estímulo ao consumo sustentável. Entre as principais medidas estão:
- Redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), que torna o preço final dos veículos elétricos mais competitivo.
- Isenção ou desconto de IPVA em diversos estados, reduzindo o custo anual de manutenção.
- Linhas de crédito verde, com juros menores e prazos estendidos, voltadas à compra de veículos elétricos e híbridos.
- Benefícios para frotas corporativas, com programas de financiamento específicos para empresas que adotam veículos de baixo impacto ambiental.
Outro fator que tem estimulado o setor é o empréstimo com garantia de veículo, modalidade que permite ao proprietário usar o automóvel como garantia para obter crédito com taxas reduzidas. Além de viabilizar a troca por modelos mais modernos, o recurso tem sido utilizado por consumidores e pequenas empresas para financiar a compra de veículos eletrificados ou cobrir custos relacionados à adaptação da frota.
Essas iniciativas, somadas à expansão da infraestrutura de recarga, fortalecem o ecossistema da mobilidade elétrica e tornam a transição mais acessível e sustentável.
Desafios ambientais e oportunidades na cadeia produtiva
A substituição da frota a combustão por modelos eletrificados representa um avanço importante na redução das emissões de gases de efeito estufa. O setor de transportes é responsável por cerca de 47% das emissões de CO₂ no Brasil, segundo o SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa).
Contudo, especialistas alertam para os impactos da produção de baterias, que exigem metais como níquel, cobalto e manganês, sobre ecossistemas sensíveis. Um estudo da WU Vienna University of Economics and Business, conduzido em parceria com a Rainforest Foundation Norway e a Fern, aponta que, no cenário de “business as usual”, a expansão da produção global de veículos elétricos pode resultar na perda de até 65 mil hectares de florestas até 2050.
A solução passa por investimentos em reciclagem de baterias, pesquisa de materiais alternativos e economia circular, reduzindo a dependência de mineração intensiva. Países como o Brasil, com reservas minerais significativas, têm a chance de liderar essa agenda, desde que priorizem cadeias produtivas sustentáveis.
Comportamento do consumidor e perspectivas futuras
O avanço dos elétricos também reflete mudanças no comportamento do consumidor brasileiro. Pesquisas da ABVE indicam que mais de 60% dos potenciais compradores consideram adquirir um carro elétrico nos próximos anos, principalmente por razões ligadas à economia de combustível e à sustentabilidade.
Ao mesmo tempo, a ampliação da infraestrutura de recarga começa a reduzir uma das maiores barreiras à adoção. Estima-se que o país já conte com mais de 5 mil pontos públicos de carregamento, concentrados nos principais centros urbanos e corredores logísticos.
A tendência é que esse número cresça rapidamente com a entrada de novos investimentos privados e públicos. “O avanço da mobilidade elétrica no Brasil é irreversível. O desafio agora é garantir que essa transição ocorra de forma inclusiva, sustentável e economicamente viável”, afirma Ricardo Bastos, presidente da ABVE.
Um novo capítulo da mobilidade brasileira
Com a expectativa de superar 200 mil unidades vendidas até o fim de 2025, o Brasil se consolida como um dos principais mercados emergentes para veículos elétricos. A transformação vai além da tecnologia: redefine o papel do automóvel no cotidiano, amplia o debate sobre infraestrutura urbana e coloca a sustentabilidade no centro da estratégia industrial.
Se o ritmo atual se mantiver, o país pode alcançar, nos próximos anos, uma frota elétrica capaz de mudar não apenas o trânsito, mas também o rumo da indústria e da economia.